Quando falamos em doenças, logo nos vem à cabeça a palavra prevenção. Não é mesmo? Você sabia que algumas doenças hematológicas, ou seja, que afetam o sangue, podem ser prevenidas com dieta?
Neste blog, o hematologista, Dr. Sérgio Brasil, Coordenador do Serviço de Hematologia do Hospital Santa Paula, destaca as principais características das doenças do sangue, os sintomas e também os tratamentos disponíveis aos pacientes. Confira!
O que são as doenças hematológicas?
As doenças hematológicas são aquelas que comprometem a produção dos componentes do sangue ou o funcionamento destes componentes.
Os componentes do sangue são: hemácias (os glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas – todos eles são fabricados na medula óssea. Também são componentes do sangue algumas proteínas fundamentais para o funcionamento do organismo como fatores de coagulação – que são fabricadas no fígado, mas têm muita importância na coagulação do sangue e por isso seu mau funcionamento é considerado uma doença hematológica.
Segundo o Dr. Sérgio Brasil, as várias doenças hematológicas são causadas por alteração de um ou mais destes elementos e as mais comuns são: os vários tipos de anemias; distúrbios na coagulação do sangue como plaquetas baixas, hemofilia ou tromboses; linfomas; leucemias agudas ou crônicas e mieloma múltiplo.
Quais são os principais sintomas?
Os sintomas vão se relacionar com o tipo de componente do sangue que está com problemas e causando a doença. “Assim, caso a doença esteja comprometendo a produção de glóbulos vermelhos, que são os responsáveis por levar oxigênio pelo corpo, sua falta vai causar cansaço, fraqueza e palidez cutânea. Já a redução no número de plaquetas ou a redução do funcionamento dos fatores de coagulação vão levar ao surgimento espontâneo de manchas roxas pelo corpo – conhecidas como petéquias e equimoses – sangramento espontâneo pelo nariz e gengiva e sangramentos digestivo e urinário.
Por outro lado, o excesso na coagulação do sangue levará a tromboses e embolias. Por sua vez, como os glóbulos brancos são responsáveis pelas defesas do nosso corpo contra os vários tipos de micróbios, seu mau funcionamento pode gerar infecções frequentes, febre persistente ou o surgimento de ínguas”, explica o médico.
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É possível me prevenir?
Algumas doenças do sangue como anemias por carência de alguma vitamina podem ser evitadas com uma dieta adequada. Outras doenças, que são hereditárias, como a anemia falciforme, as talassemias ou as hemofilias podem ser orientadas e até evitadas através de estudo genético da família.
Contudo, várias doenças do sangue – sobretudo as malignas – não tem como serem evitadas. Embora saibamos que nestes casos existam alguns fatores, como o contato com radiações, com inseticidas agrícolas ou derivados de petróleo, que aumentam a chance de o indivíduo ter este tipo de doença, há muitos casos em que pacientes que apresentam estas doenças não relatam nenhum destes contatos.
O médico complementa ainda: “Assim, podemos dizer que o mais importante é procurar um hematologista quando o paciente sentir cansaço fácil, perceber o aparecimento de manchas roxas e sangramentos espontâneos, ou ainda febre persistente acompanhada ou não de perda de peso, suor noturno e surgimento de ínguas. O hematologista, após realizar alguns exames, acompanhará o caso e definirá o tratamento”.
E como é o tratamento?
No caso das anemias carenciais, isto é, aquelas que ocorrem pela falta de um nutriente, o tratamento é simples. A reposição do nutriente ou, quando possível, a correção da causa desta deficiência geralmente resolve o problema.
Quando o problema se relaciona com a coagulação, o hematologista irá esclarecer se há um excesso – que leva a tromboses e embolias – ou falta da coagulação – que leva a sangramentos. Em seguida, ele tentará saber qual a parte exata da coagulação que está causando o problema e, com o uso de medicamentos, aumentará ou diminuirá a capacidade de coagulação do sangue.
Já quando o problema é relacionado à produção alterada de glóbulos brancos causando um tipo de câncer, isto é, leucemias crônicas ou agudas, linfomas e mieloma, o hematologista vai classificar o tipo de alteração e avaliar sua extensão para definir o tratamento mais específico possível. Este tratamento deverá sempre considerar os riscos e efeitos colaterais diante das condições de saúde do paciente.
Há hoje várias formas de tratamento que são utilizadas para um melhor resultado. Assim, temos a imunoterapia, a quimioterapia e a radioterapia.
Nos últimos anos estes tratamentos estão cada dia mais eficazes com o desenvolvimento de técnicas de radioterapia cada vez mais precisas, com o uso dos anticorpos monoclonais e com as chamadas terapias-alvo que têm por finalidade atingir especificamente tanto as células tumorais como o ambiente em que as células tumorais estão presentes com cada vez menos efeitos colaterais – alguns chamam este tratamento de “chemo-free” (do inglês: livre de quimioterapia).
Além da radioterapia, imunoquimioterapia e terapias-alvo, outra forma de tratamento das leucemias, linfomas e mieloma é o transplante de medula óssea. O transplante de medula óssea deve ser feito após a doença estar sob controle, mas ainda não totalmente eliminada. A depender do tipo da doença, é recomendado o transplante onde o doador da medula óssea é o próprio paciente (transplante autólogo) ou outra pessoa (alogênico)
O transplante autólogo ocorre em duas etapas. A primeira se baseia na coleta das chamadas “células-tronco”. Neste momento, o paciente, com a doença sob controle, receberá medicamentos que vão estimular o aparecimento das chamadas “células-tronco” no sangue que serão coletadas por um processo chamado aférese (há ainda a possibilidade destas “células-tronco” serem coletadas diretamente da medula óssea – geralmente da bacia – em centro cirúrgico, porém este método é cada vez menos utilizado). Estas “células-tronco” serão, então, armazenadas até que se complete a segunda etapa.
A segunda etapa ocorre quando o paciente recebe uma alta dose de quimioterapia que tem por finalidade eliminar ou reduzir as células malignas no organismo. Após este processo, ele receberá as “células-tronco” coletadas anteriormente e, até que estas recomecem a produzir novamente células sadias, o paciente estará com a imunidade muito baixa e muito frágil e permanecerá internado até que a produção das células do sangue e seu estado geral permita que receba alta.
No transplante alogênico, o doador da medula óssea não é o paciente. Neste caso, é muito importante avaliar a compatibilidade entre os glóbulos brancos do doador e os glóbulos brancos do paciente.
Preferencialmente, esta compatibilidade deve ser total, isto é, de 100%. Para que isso aconteça, o doador geralmente deve ser um parente próximo, como irmão do mesmo pai e da mesma mãe, porém pode acontecer de uma outra pessoa, que não seja parente do paciente, apresentar compatibilidade total com ele ou ainda, na falta de um doador completamente compatível, este poderá ser um familiar que apresente apenas metade da compatibilidade (chamamos este tipo de transplante de haploidêntico).
Porém, quanto maior a diferença entre os glóbulos brancos do doador e do receptor, maior a chance de “rejeição” e maior será a necessidade do uso de medicamentos para controlar esta rejeição. Estes medicamentos, no entanto, reduzem a imunidade do paciente por um tempo mais prolongado e fazem com que o risco de infecções graves aumente.
Portanto, o transplante alogênico é um tratamento complexo que exige muito conhecimento do hematologista, grande disciplina do paciente e uma excelente relação entre ambos.
O que um paciente com alguma doença no sangue deve fazer durante o tratamento?
O sucesso do tratamento não depende exclusivamente do médico. A todo paciente cabe uma parcela de responsabilidade sob o resultado deste tratamento, mas tudo começa com a relação entre o paciente e seu médico. Esta relação deve ser a mais franca possível, e exames e orientações devem ser realizados para evitar riscos maiores que o próprio tratamento.
Além disso, é importante destacar que algumas doenças hematológicas, principalmente as leucemias agudas e os linfomas, apresentam como característica inicial uma redução da imunidade.
Infelizmente, o tratamento tende a acentuar ainda mais este problema. Diante disso, o paciente deve ter cuidados com sua higiene pessoal e com sua alimentação.
Por exemplo: alimentos industrializados, de origem duvidosa, muito condimentados devem ser evitados. Isso porque, esclarece o médico, exigem muito do fígado do paciente que, devido aos tratamentos e medicamentos, já está sobrecarregado. Além disso, tabagismo e álcool devem ser evitados, do mesmo modo que a atividade física deve ser incentivada, desde que de acordo com orientações.
O Dr. Sérgio Brasil destaca ainda que as orientações são maiores à medida que o quadro, e a doença, forem mais complexos:
“Quanto mais complexa for a doença a ser vencida, o paciente sempre contará com a ajuda não apenas do médico, mas de toda a equipe dos profissionais que se envolvem no tratamento como dentistas, fisioterapeutas, nutricionistas, enfermeiros, fonoaudiólogos e farmacêuticos”.
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