
Este guia explica o câncer ocular mais comum na infância, seus sintomas e por que a atenção dos pais é fundamental.
A cena é comum em qualquer família: um momento de alegria, o celular em punho para registrar o sorriso do seu filho. Ao olhar a foto, porém, algo parece diferente. Em vez do típico reflexo vermelho nos olhos causado pelo flash, um dos olhos da criança apresenta uma mancha branca, quase leitosa.
Esse pequeno detalhe, muitas vezes ignorado, pode ser o primeiro sinal de alerta para o retinoblastoma. É importante notar que o retinoblastoma é o único tumor do sistema nervoso central que pode ser facilmente percebido a olho nu, permitindo a observação sem a necessidade de equipamentos especializados.
O que é o retinoblastoma exatamente?
O retinoblastoma é um tipo de câncer que se origina nas células da retina, a camada fina de tecido nervoso localizada no fundo do olho, responsável por captar a luz e enviar imagens ao cérebro. É o tumor maligno intraocular mais comum em crianças, afetando predominantemente pacientes antes dos três anos de idade.
Embora seja um câncer complexo, o retinoblastoma é curável e costuma ser detectado antes que a criança complete dois anos. Contudo, se não for tratado rapidamente, é uma doença letal, com uma taxa de sobrevivência global que pode ser abaixo de 30%.
Esse câncer ocorre quando as células imaturas da retina, chamadas retinoblastos, sofrem uma mutação genética que as faz crescer e se multiplicar de forma descontrolada, formando um ou mais tumores. A doença pode afetar um olho (unilateral) ou ambos os olhos (bilateral).
Quem é mais afetado pelo retinoblastoma?
A grande maioria dos casos de retinoblastoma é diagnosticada em crianças pequenas, geralmente antes dos cinco anos de idade. Ele é o câncer de olho mais comum que afeta crianças e, de fato, a detecção costuma ocorrer antes que a criança complete dois anos de idade, afetando predominantemente pacientes antes dos três anos.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), ele representa cerca de 3% de todos os cânceres infantis. A incidência é ligeiramente igual entre meninos e meninas e não há uma predileção por etnia.
Quais são os principais sinais e sintomas de alerta?
A identificação precoce dos sinais do retinoblastoma é o passo mais importante para um tratamento bem-sucedido. Os pais e cuidadores devem estar atentos a qualquer alteração nos olhos da criança.
Os sinais iniciais mais comuns são a pupila esbranquiçada, conhecida como leucocoria, e o desalinhamento dos olhos, também chamado de estrabismo.
Leucocoria: o que é o "reflexo do olho de gato"?
O sintoma mais característico, presente em cerca de 90% dos casos, é a leucocoria. O nome técnico pode parecer complexo, mas seu sinal é simples: um reflexo esbranquiçado ou amarelado na pupila, popularmente conhecido como "olho de gato".
Normalmente, quando uma luz incide sobre o olho, como o flash de uma câmera, a pupila reflete a cor avermelhada dos vasos sanguíneos da retina. No olho com o tumor, essa luz reflete a própria massa tumoral, gerando a mancha branca. Esse sinal é mais evidente em ambientes com pouca luz ou em fotografias, sendo o retinoblastoma o único tumor do sistema nervoso central que pode ser notado a olho nu.
Outros sintomas que merecem atenção
Além da leucocoria, outros sinais podem indicar a presença de retinoblastoma. É fundamental observar se a criança apresenta:
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Estrabismo: desalinhamento dos olhos, quando um olho parece olhar para uma direção diferente do outro (vesgueira). O estrabismo é um dos sinais iniciais mais comuns, juntamente com a leucocoria.
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Vermelhidão e inchaço: um olho que fica persistentemente vermelho, irritado ou inchado sem uma causa aparente.
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Alteração na cor da íris: mudança na cor de uma parte ou de toda a íris (a parte colorida do olho).
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Perda de visão: a criança pode demonstrar dificuldade para enxergar, esbarrando em objetos ou não acompanhando movimentos.
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Dor ocular: embora menos comum, a dor pode ocorrer se o tumor causar aumento da pressão dentro do olho.
O que causa o retinoblastoma?
O desenvolvimento do retinoblastoma está ligado a uma mutação no gene RB1. Este gene tem a função de suprimir tumores, ou seja, controlar o crescimento celular. Quando ele não funciona corretamente, as células da retina podem se multiplicar sem controle.
A doença é sempre hereditária?
Não. A mutação no gene RB1 pode ocorrer de duas formas distintas:
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Forma hereditária (cerca de 40% dos casos): a criança já nasce com a mutação em todas as células do corpo, herdada de um dos pais. Nesses casos, o risco de desenvolver tumores em ambos os olhos (bilateral) é maior, e o diagnóstico costuma ocorrer mais cedo, geralmente no primeiro ano de vida.
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Forma esporádica (cerca de 60% dos casos): a mutação ocorre por acaso em uma única célula da retina após o nascimento. Essa forma afeta apenas um olho (unilateral) e não é transmissível para as futuras gerações.
Como é feito o diagnóstico por um especialista?
A suspeita de retinoblastoma exige uma avaliação urgente por um oftalmologista, de preferência com experiência em oncologia ocular pediátrica. O diagnóstico é confirmado por meio de um exame detalhado do fundo do olho, chamado fundoscopia ou mapeamento de retina, realizado com as pupilas dilatadas.
Para determinar o tamanho e a extensão do tumor, bem como avaliar se ele se espalhou para fora do olho, o médico pode solicitar exames de imagem, como:
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Ultrassonografia ocular
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Ressonância magnética (RM) do crânio e das órbitas. Por meio da ressonância magnética, é possível realizar uma análise detalhada do retinoblastoma, incluindo características genéticas do tumor.
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Tomografia computadorizada (TC)
Quais são as opções de tratamento disponíveis?
O tratamento do retinoblastoma é altamente especializado e definido por uma equipe multidisciplinar, que inclui oncologista pediátrico e oftalmologista. O objetivo principal é curar o câncer, preservar a visão da criança e, sempre que possível, salvar o olho.
A escolha da terapia depende do tamanho, localização e quantidade de tumores, além de verificar se a doença é uni ou bilateral.
Retinoblastoma tem cura?
Sim. Embora seja um câncer ocular infantil complexo, o retinoblastoma é curável quando diagnosticado precocemente, com altas taxas de cura que superam 90%.
No entanto, se o retinoblastoma não for tratado rapidamente, é uma doença letal, com uma taxa de sobrevivência global que pode ser abaixo de 30%. O sucesso do tratamento está diretamente ligado à rapidez com que a doença é identificada e tratada.
Um diagnóstico tardio pode não apenas resultar na perda da visão, mas também permitir que o câncer se espalhe para outras partes do corpo, tornando o tratamento mais complexo e diminuindo as chances de cura. Portanto, a vigilância e a ação rápida são essenciais.
O que fazer ao notar qualquer sinal suspeito?
Se você observar o reflexo branco no olho do seu filho em uma foto ou notar qualquer outro sintoma mencionado, não entre em pânico, mas aja rapidamente. Agende uma consulta com um pediatra ou um oftalmologista o mais breve possível e relate suas observações.
A saúde ocular infantil deve ser parte do acompanhamento pediátrico de rotina. O "teste do olhinho", realizado ainda na maternidade, é um primeiro passo importante, mas não substitui as consultas oftalmológicas regulares ao longo do crescimento da criança.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.




